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Mil formas de (tentar) matar Abril

Hoje, ninguém é velho aos 40 anos. Estamos no tempo em que ser quarentão é um orgulho.
Também o 25 de Abril é quarentão (completa hoje 42 anos). Igualmente quarentona, desde o passado dia 2 de abril, é a Constituição da República Portuguesa. Logo, ambos deveriam estar cheios de vigor. No entanto, não é isso o que se passa, ainda que estejam bem vivos e nos façam continuar a acreditar que valeu a pena esperarmos 48 anos para assistirmos à libertação do país. Contudo, há muito que Abril é vítima de amputações que põem em causa a sua sobrevivência e há muito que se vêm destruindo aspetos fundamentais consignados na Constituição.
Na verdade, Abril vem sendo atacado, persistentemente, nos seus princípios e nos valores que nos legou, muitas vezes, por quem publicamente diz ser defensor dos mesmos. Não faltam provas evidentes de que muitos dos que se julgam senhores de Portugal querem matar Abril e, dessa forma, satisfazer a sua gula à custa do definhamento da maioria.
Não tendo espaço suficiente para enumerar todas as provas das 1000 formas que vêm sendo usadas para matar Abril, deixo aqui algumas bem evidentes, que nos fazem lembrar o período pré Revolução:

  • Abril trouxe o direito de reunião, de manifestação e de associação; os tribunais, por pressões políticas, atacam-no: um sindicalista da União de Sindicatos da Guarda foi condenado, recentemente, a 120 dias de multa, no valor de 840 €, por se manifestar contra as políticas governamentais e pedir a demissão de Cavaco Silva; idêntica sorte (40 dias de multa, 240 €) tiveram três manifestantes no Porto Santo, sendo eu um deles, por defenderem melhores ligações ao exterior, aquando da visita de Passos Coelho à ilha.
  • Abril trouxe-nos os subsídios de férias e de Natal; o Governo de Passos baralhou um e outro e, na verdade, tirou-nos um, embora dissesse que era pago mensalmente. Já andei de lupa à procura dele, mas não o encontrei. Ao outro encolheu-o.
  • Abril trouxe a redução dos horários laborais; Passos alargou-os e Costa anda a empatar.
  • Abril valorizou os direitos sindicais; o Ministério da Educação avança com medidas sem ouvir os sindicatos, afirmando que é para poupar tempo. No outro tempo também se poupava.
  • Abril reconheceu o direito à negociação coletiva; o Governo anterior quase o aniquilou.
  • Abril semeou a democracia pela sociedade e por todas as instituições; a SRE baniu-a dos órgãos de direção, gestão e administração da Escola Profissional.
  • Abril trouxe o direito ao emprego estável; as medidas políticas dos últimos governos generalizaram a precariedade e lançaram milhares de portugueses no desemprego;
  • Abril abriu portas ao Estado Social forte; hoje, está enfraquecido e em risco de desaparecer.
  • Abril garantiu que os bens essenciais do país eram de todos os portugueses; hoje são dos chineses, dos espanhóis, dos angolanos, dos espíritos santos, e dos espertalhões que se escondem nos offshores.
  • Abril trouxe de volta milhares de portugueses; hoje o percurso é inverso.
  • Abril trouxe-nos um conjunto de políticos carismáticos, visionários e dedicados; hoje, somos regidos por agiotas.
    Enfim, a Revolução de Abril ofereceu-nos a esperança num futuro melhor; hoje, olhamos o futuro com desconfiança e pessimismo.

Diário de Notícias, 25 de Abril de 2016
http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/583344-mil-formas-de-tentar-matar-abril

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