Há muitos professores e educadores a aguardar pelo final do processo de recuperação do tempo de serviço
O envelhecimento do corpo docente e a falta de professores levou, ontem, em Lisboa, à realização do seminário “Faltam professores! E agora?”, promovido pelo Conselho Nacional de Educação, que reuniu alguns dos maiores investigadores e decisores políticos do nosso país, entre os quais, João Costa, atual ministro da educação.
A agência Lusa difundiu, profusamente, as declarações de uma das convidadas, Luísa Loura, diretora da base de estatísticas da Pordata e ex-diretora da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Aqui reproduzo algumas delas, como meros exemplos da gravidade do problema:
Cerca de 110 mil alunos do ensino obrigatório não terão professor, a pelo menos uma disciplina, dentro de um ano. […] daqui a três anos, o problema poderá atingir 250 mil alunos, sendo que a falta de professores se vai sentir quase exclusivamente do 7.º ao 12.º ano.
Atualmente, a maioria dos professores do ensino básico e secundário tem pelo menos 50 anos e estima-se que, até 2030, metade dos docentes poderá reformar-se.
Estes dados já são suficientemente alarmantes, mas a realidade é bem mais assustadora. Na verdade, não podemos ficar tranquilos quando sabemos que metade dos professores poderá aposentar-se nos próximos anos e que a capacidade da formação das universidades não ultrapassa os 20 % das necessidades. Estamos perante uma tempestade perfeita, apesar da crise demográfica, que fundamentou, durante tantos anos, o desinvestimento na formação de professores e um conjunto de medidas que contribuíram para a desvalorização da profissão docente. As consequências estão à vista: poucos querem ser professores, apesar de se continuar a dizer que é uma profissão bem paga. Não é, não! Podem crer. Se o fosse, não tínhamos esta crise entre mãos.
Em relação à Madeira, diz a diretora da base de estatísticas da Pordata que a falta de professores não se fará sentir, nos próximos anos, tal como nos Açores, porque a média de idades é mais baixa. Concordamos: na RAM, a média de idades dos professores é cerca de 2 anos mais baixa. Todavia, não concordamos que a falta de professores não se venha a fazer sentir. Aliás, em alguns grupos disciplinares já se nota. Só quem anda distraído não vê isso. O pior acontecerá, porém, após 2025, quando se der a debandada de professores e educadores para o continente. Veremos se somos os mensageiros da desgraça ou se, simplesmente, somos realistas. Do que temos a certeza é que há muito professores e educadores a aguardar pelo final do processo de recuperação do tempo de serviço, que termina naquele ano, para regressar às suas terras, onde os aguardam familiares a precisar de apoio.
Porque esta é uma matéria crucial para o futuro da educação, o 13.º Congresso Regional dos Professores, que se realizará em novembro, terá por lema a pergunta retórica que encabeça este artigo. Retórica porque todos sabemos que haverá sempre futuro para a educação, mas, sem o rejuvenescimento do corpo docente, certamente, não será um futuro risonho.