Madeira, 16 de setembro de 2035
Por toda a Região Autónoma da Madeira, os alunos regressam em força à escola, mas sem força, para mais um ano letivo. As salas de aula estão bem apetrechadas com os mais modernos equipamentos didáticos, que ocupam a centralidade de todos os espaços. Os alunos, nas suas mochilas ultra leves, transportam tabletes e chromebooks de última geração, que contêm todos os manuais digitais e inúmeros recursos que potenciam as suas aprendizagens. O saber, como dizia o povo, não ocupa espaço. Hoje, pode dizer-se que não ocupa espaço nem pesa. Sim, porque, há bem pouco tempo, ainda pesava, e de que maneira. Basta pensar no que seria transportar os mais de 20 volumes (pelo menos, 5 kg cada) da Enciclopédia Luso-Brasileira às costas. Nem o mais robusto e atlético dos alunos conseguiria. No entanto, agora, ali vão eles com informação e cultura para dar e vender. Missão bem difícil, porque, vendida poucos a querem; dada, muitos menos.
Porém, como a educação não é um negócio – bem, não falemos disso aqui, porque, “amigos, amigos, negócios à parte” –, voltemos ao início das aulas deste ano letivo de 2035-2036. Como dizíamos, quanto a recursos materiais, nenhuma mácula; o melhor que a tecnologia já produziu por todas as escolas da RAM. Um brinquinho, sim, senhor, não há que dizer! Entremos, então, nesta sala onde vai acontecer uma aula e apreciemos como o professor se vai desenvencilhar com tanta tecnologia e equipamento.
Professor, ups, onde anda ele? Passam cinco minutos, passam dez e não há sinais de professor. Perguntamos aos alunos, que vão chegando a conta-gotas, pelo professor. “Que professor? – respondem eles – já não precisamos deles; se queremos aprender, está tudo ali.”
“Ali” é um quadro interativo, onde vai sendo apresentada a aula, através de sons e imagens: primeiro o sumário, seguem-se as indicações para o uso do manual digital no estudo da matéria do dia; depois, pausa, com música de fundo, para a realização de exercícios e, finalmente, a sua correção. Imagens e esquemas explicativos atrativos, repletos de luz, cor e sons. Impossível não aprender com aquela metodologia que nos entra olhos e cérebro adentro. Isto, sim, é uma educação para os nossos tempos de consumo frenético de tudo o que brilha. Será o ouro da educação? O povo alerta que “nem tudo o que brilha é ouro”.
No quadro interativo, bla, bla, bla.
Os alunos, porém, estavam ali de corpo presente, mas faltaram à aula.


