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O elixir da juventude

Maria (nome fictício) tem 64 anos, 43 como professora. Encontramo-la, na semana anterior, na sua escola, aquando de uma visita de rotina.

Maria não é mulher para lamentos, bem pelo contrário: o otimismo continua a orientar a sua ação, quer a nível pessoal, quer profissional. À volta da mesa onde a encontramos, estavam outras 4 colegas, professoras na mesma escola. Só uma com idade abaixo dos 60 anos. Em tão curto espaço, concentravam-se mais de 170 anos de experiência de lecionação. Mais de século e meio a educar e a formar milhares de pessoas, muitas delas, hoje, com notoriedade em várias áreas da sociedade regional; outras, espalhadas um pouco por todo o mundo.

Maria era a líder natural, naquele meio; não tanto pela idade, mas pela sua natureza alegre e otimista e pelo conhecimento das principais questões profissionais em que se centrou a nossa conversa. Na verdade, trata-se de uma associada do SPM que continua a acompanhar a ação reivindicativa do seu Sindicato, mesmo em matérias que já não a afetam, diretamente.

São, sempre, conversas animadas em que se aborda a ação do SPM pela dignificação dos docentes. No entanto, há uma matéria que, por norma, tende a sobrepor-se às demais, sobretudo entre quem já deu tanto de si à educação: a idade da aposentação. Esta tendência está patente em todos os estudos sobre o desgaste dos professores e dos educadores, que apontam para percentagens altíssimas em relação ao desejo de se aposentarem. Por exemplo, no estudo promovido pelo SPM, no ano letivo anterior, em que participaram quase 1300 docentes da RAM, a equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico de Lisboa concluiu que cerca de 80% dos docentes da RAM pretenderia aposentar-se antes da idade legal, se as penalizações não fossem tão elevadas; 73 % equacionam pedir a pré-reforma e 90 % defendem que as exigências profissionais dos docentes justificam a existência de um regime de aposentação específico, sem penalizações. No entanto, os representantes da nação pensam de maneira diferente.

Naquele grupo de professoras, as opiniões confirmavam as estatísticas. Maria não era exceção. No entanto, ironiza:

– O modelo de aposentação vigente é a prova de que o elixir da juventude não é uma quimera, antes se realiza todos os dias nas salas de aulas, onde os professores têm de trabalhar como se tivessem pouco mais de vinte anos.

Porém, a finalizar coloca o dedo na ferida da grande maioria dos docentes:

– Já reparou que há 43 anos trabalhava com adolescentes e hoje continuo a trabalhar com adolescentes? Parece que nada se alterou, mas, naquela altura tinha 21 anos; hoje tenho 64. Antes, a minha energia estava em níveis máximos; hoje, aproxima-se dos mínimos. Antes, a maioria dos alunos queria aprender; hoje, pouco interesse tem pela escola. Até quando conseguirei aguentar?

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